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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Ondas de Leste

ONDAS DE LESTE

Organizado por: Vannia Jaqueline Aliaga Nestares
Avaliado por: Dante Campagnoli Napolitano

1. Definição:

As ondas de leste (OL), também denominadas distúrbios ondulatórios de leste ou ondas de leste africanas são sistemas de escala sinótica definidas pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) como distúrbios em níveis baixos e de origem tropical que podem-se desenvolver em ciclones tropicais (Asnani, 2005), principalmente nas bacias do Atântico tropical e do Pacífico oriental (COMET, 2014), e também são responsáveis das chuvas importantes no noreste e norte do Brasil (Caetano, 2011). Segundo Burpee (1972), a metade das OL são responsáveis pela formação dos ciclones tropicais no Atlântico; porém, o desenvolvimento dos ciclones não é necessário para a geração de quantidades significativas de chuva. Segundo a Sociedade Meteorológica Americana, as OL são geradas devido à combinação da instabilidade barotrópica e baroclínica (Saha e Chang, 1983; Grist, 2002) do jato africano. Têm um período de 3-4 dias, um comprimento de onda de 2000 – 2500 km e atingem a longitude máxima na baixa troposfera. Entre Maio e Outubro tem-se uma média de 60 OL se as condições de grande escala favorecem a existência do jato africano. As OL podem-se propagar com direção oeste cruzando o Atlântico Norte tropical e subtropical e podem atingir o mar caribenho e a região ocidental do Atlântico Norte. Algumas OL podem converter-se em furacões.
Embora existam várias pesquisas sobre ondas de leste antes de Riehl (1945), foi ele o primeiro quem tem um artigo ao respeito, onde ele define as ondas de leste como as perturbações que se movem de leste ao oeste com a aparência de uma onda de pressão/vento sinusoidal simples ou num sistema mais complexo. 

2. Características e Identificação:

As ondas de leste apresentam-se como um cavado formado pela máxima curvatura ciclônica nos ventos alísios de leste (COMET, 2007). Apresentam-se percorrendo todo o mundo e tem características ligeiramente diferentes dependendo onde se encontrem no seu caminho pelos trópicos, originando-se em algumas regiões e morrendo em outras (Asnani, 2005).

2.1. Características regionais durante o verão do Hemisfério Norte (HN)

As OL apresentam-se nos trópicos em todo o mundo no verão na região tropical de ambos Hemisférios, e estão nas vizinhançãs da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), mas não sobre ela (Asnani, 2005), porém são mais estudadas no HN. O origem das OL pode ser apresentado na qualquer região do seu caminho, mas segundo o MASTER (IAG, USP), baseado em Asnani (2005), o caminho pelos trópicos das OL é o seguinte:
“As OL se originam como fracos sistemas de baixa pressão, perto da ZCIT, crescendo para depressões tropicais e ocasionalmente para tufões que afetam as Filipinas, sul do Mar da China, Vietnã, sudeste da China e Japão. Logo cruzam Vietnã, Tailândia e Burma e atingem a Baía de Bengal, na qual em condições favoráveis, podem propiciar a formação das depressões monçônicas; cruzam a Índia e seguem para o Golfo Pérsico leste e se enfraquecem na porção oeste do golfo. Novamente podem ser detectadas sobre o norte da África (Carlson, 1969), a oeste de 30°E, e se intensificam à medida que se movem para oeste, atingindo seu máximo aproximadamente em 5°W. cruzando a costa oeste africana, adentram no Atlântico enfraquecendo-se e movendo-se sobre o Atlântico Central e Atlântico Oeste; nesta região são geralmente intensificadas e propiciam o desenvolvimento dos furacões que afetam o Golfo do México e costa sudeste dos Estados Unidos da América”.

As características em cada região são apresentadas na Tabela 1.



Tabela 1: Características regionais das ondas de leste.

Fonte: MASTER, IAG – USP, baseado em Asnani (2005).

Característica
No Pacífico Oeste Central
Sobre a Índia
No norte da África
Sobre o Caribe
Sobre o Pacífico Leste
Comprimento de onda
3500 – 4000 km, decai a medida que se move para o oeste.
~2000 km.
~2500 km
~2000 km.
~3000-3500 km.
Período
4 a 5 dias.
5 a 6 dias.
3,5 dias.
~4 dias.
4 a 6 dias.
Velocidade de propagação
10 m/s; decai à medida que se move para oeste.
4,3 m/s.
~8 m/s
~6 m/s
5-7 m/s.
Inclinação Horizontal
NE-SW ao norte do equador e NW-SE ao sul do equador.
NNE—SSW
NE-SW na baixa troposfera.
NNE—SSW (Saha, 2010)
NE-SW.
Inclinação vertical
No extremo leste (oeste) da região, inclina para leste (oeste) com a altura; uma média em toda a região indicaria pouquíssima ou nenhuma inclinação.
O cavado da onda se inclina levemente para leste com a altura à medida que a onda se aproxima da Baía de Bengal.
Inclina para leste com a altura na zona de cisalhamento abaixo de 700 hPa.
O cavado da onda se inclina para leste em níveis baixos e médios.
--
Nuvens e precipitação
Apresentam-se concentradas nos extremos da região.
Predominantemente a oeste da linha do cavado.
Ao norte de 12,5°N ocorre máximo de nebulosidade e precipitação adiante do cavado da onda; ao sul, ocorrem máximos no eixo do cavado, logrando assim misturarse com a ZCIT.
Os máximos tendem a ocorrer a leste da linha do cavado mas bem próximo a ele.
Máxima nebulosidade no cavado ou levemente atrás dele, mas a nebulosidade é pequena em todos os casos.
Aquecimento diabático
Cerca de 8 K/dia em 400hPa e 1 K/dia em 200hPa e 900hPa.
Cerca de 10 K/dia com máximo na alta troposfera.
--
--
--
Extensão vertical
O movimento vertical é desde superfície até alta troposfera no caso de ondas bem desenvolvidas com o nível de não divergência em 400 hPa, e até média troposfera no caso de mais fracas (Asnani, 2005). 
 --
Incrementam-se quando a onda move-se para o oeste ao cruzar o centro e oeste da Africa (Burpee, 1974). 
        --
Muito rasas, com máxima intensidade em 850 hPa, sendo frias até 1,5 km e quentes acima deste nível.

Quando apresentam-se no HS, as OL estão nas vizinhanças da ZCIT no Pacífico Oeste Central, gerando tempestades e ciclones no norte da Austrália e no Índico Sul (Asnani, 2005).


2.2. Características das OL sobre o Atlântico e Caribe

As ondas que se vai a estudar aqui geram-se entre os 15 e 30°E, intensificam-se e atingem sua máxima amplitude sobre África ocidental, debilitam-se sobre o leste do Oceano Atlântico, mas novamente fortificam-se no seu avance pelo Atlântico até chegar ao Caribe (Asnani, 2005). Têm comprimento de onda de 1500-3000 km (15-30° aproximadamente) e atingem sua máxima intensidade entre 850-700 hPa, onde atingem também sua máxima amplitude, têm extensão latitudinal de 10-15° com velocidade de deslocamento para o oeste de 5-10 m/s e têm uma frequência de uma onda cada 3-5 dias no período de maior ocorrência. As ondas primeiramente se formam nos 700 hPa e logo propagam-se para abaixo porque as maiores variações de pressão ocorrem nesse nível; normalmente são de núcleo frio desde superfície até os 600 hPa e têm um núcleo ligeiramente cálido acima deste nível, têm inclinação horizontal de NE-SW na troposfera baixa e por debaixo dos 700 hPa têm inclinação vertical para o leste com a altitude (COMET, 2007)

Durante os períodos de fluxo meridional de grande escala, os cavados formados pelas ondas de leste são “capturados” por este fluxo, convertendo-as em estacionárias e depois de um tempo pode ocorrer a fratura que normalmente torna-se num fluxo mais fraco. No entanto, ocorre uma exceção quando forma-se uma circulação ciclônica fechada nos ventos de leste. Isto poderia converter-se em um furação (fig 1) (Riehl, 1954). 


Figura 1: Isóbaras em superfície. Modelo de aprofundamento nas ondas de leste.
Fonte: Riehl, 1954.

2.3. Identificação

Devido à quantidade de informação disponível e à área de interesse de influência das OL, só vai-se estudar a identificação das OL sobre o Atlântico até atingir o Caribe. Além disso, a identificação pode ser de três formas diferentes: horizontal, vertical e através de imagens de satélite.

2.3.1. De forma horizontal

Esta forma de identificação está baseada nos estudos realizados por Riehl em 1945, e o modelo para a identificação das ondas é conhecido como o modelo “clássico” das ondas de leste de Riehl.
Pode-se identificar uma onda de leste em uma carta de isóbaras em superfície (com intervalo de 2 hPa) e linhas de corrente em 700 hPa, como a mostrada na figura 2, onde observam-se ventos de leste e sudeste atrás do eixo do cavado e ventos do norte e nordeste à frente do eixo do cavado. Nota-se também que em 700 hPa o eixo da onda localiza-se ao leste do eixo da onda em superfície (inclinação para leste com a altitude), assim como uma circulação ciclônica fechada neste nível quando a onda é intensa. É representativa a convergência ao leste do eixo e divergência  ao oeste. 


Figura 2: a) Isóbaras em superfície. A linha preta grossa é o eixo do cavado em superfície e a linha tracejada representa o eixo do cavado em níveis mais altos. b) Linhas de corrente em 700 hPa.
Fonte: Riehl, 1954.
Outra forma de identificação na horizontal é com linhas de tendência de pressão em superfície feitas por Dunn em 1940, uma queda de pressão em 24 horas de 0,5-3,0 hPa precedem o passar da onda, e subidas de pressão ocorrem depois que a onda passa.  Além disso, as regiões de divergência em baixos níveis correspondem a áreas de queda de pressão e regiões de convergência em baixos níveis correspondem à áreas de incremento de pressão (Riehl,1954).

2.3.2. De forma vertical

Esta forma de identificação também está baseada nos estudos realizados por Riehl em 1945. Mediante um corte vertical desde a superfície até 400 hPa dos ventos (fig 3) mantendo constante a latitude, mas variando a longitude. Os ventos ao oeste do eixo da onda apresentam-se com direção lestenordeste (ENE), nordeste (NE) e norte (N), ao contrário daqueles ao leste do eixo da onda que encontram-se com direção lestesudeste (ESE) e sudeste (SE). Também observa-se que a curvatura máxima encontra-se entre 1500-3000 metros (850-700 hPa). Além disso, a componente leste do vento é forte próxima do eixo da onda, e fraca muito próxima dele, por isso observa-se divergência frente o cavado e convergência depois dele em níveis baixos. Como em níveis altos a região de convergência em superfície é compensada por divergência e vice-versa, o eixo da onda inclina-se para leste.   
Figura 3: Exemplificação dos ventos no corte vertical das ondas de leste. A linha grossa representa o eixo da onda. O círculo azul representa a curvatura máxima dos ventos
Fonte: COMET (2007), baseado em Riehl (1945 e 1954).

Outra forma de fazer o corte vertical é mantendo constante a latitude e longitude, mas variando o tempo (corte vertical de uma série temporal) (Riehl, 1954). COMET (2007), apresenta o estudo realizado por Riehl em 1944, onde observa-se uma onda de leste passando pelo Caribe, onde os padrões de nebulosidade típica e precipitação representativa associada estão discutidos nas Figuras 4-7. 

Na crista localizada diante do cavado observa-se nebulosidade com altitude média tipo cumulus de bom tempo (sem precipitação) (fig 4).  
Figura 4: Corte vertical de uma série temporal através de uma onda de leste. A zona não sombreada representa a região analisada.
Fonte: COMET (2007), baseado em Riehl (1945).

Quando aproxima-se o eixo da onda (diante do cavado), os cumulus são mais profundos e altos, além de formar-se cirrus e altocumulus com geração de pouca chuva próximo ao eixo da onda (fig 5).
Figura 5: Corte verticalde uma série temporal através de uma onda de leste. A zona não sombreada representa a região analisada.
Fonte: COMET, baseado em Riehl (1945).

Sobre o eixo do cavado, as nuvens são mais complexas e desenvolvem-se cumulus congestus e cumulonimbus. Ainda observam-se cirrus e altocumulus, assim como estratocumulus, altrostratus e cirrostratus, e a frequência e intensidade das chuvas incrementa-se, chegando a ser moderadas e fortes, com alguma chuva ligeira entre estas (fig 6).
Figura 6: Corte vertical de uma série temporal através de uma onda de leste. A zona não sombreada representa a região analisada.
Fonte: COMET, baseado em Riehl (1945).

Quando a onda passa para oeste, as chuvas fortes diminuem e a nebulosidade e precipitação têm redução paulatina. As condições voltam a ser como na dorsal (bom tempo) (fig 7). 
Figura 7: Corte vertical  de uma série temporal através de uma onda de leste. A zona não sombreada representa a região analisada.
Fonte: COMET, baseado em Riehl (1945).
  

2.3.3. Nas imagens de satélite no canal infravermelho

Os padrões de nebulosidade e precipitação das ondas de leste variam dependendo de cada onda, para isso, sobre o Caribe (as que estudamos aqui), o modelo principal que analisa a identificação das ondas de leste é o modelo de onda em “V invertido de Frank". Frank (1969) expressa que os padrões de nebulosidade dentro da OL em uma imagem de satélite podem ser observados em forma de “V invertido”, uma ao norte da outra, entre os 5 e 25°N. Este padrão de nebulosidade tende a alinhar-se em sentido paralelo ou quase-paralelo aos ventos da baixa troposfera ou à cortante (fig 8). Além disso, Frank (1969) diz que a formação da onda em níveis baixos é uma resposta a um cavado em níveis altos (fig 9), isto é contrário ao dito por Riehl (1945), que especifica que a onda só existe em níveis baixos. 
Figura 8: Esquema mostrando a relação entre o padrão de nebulosidade em forma de “V invertido" e o escoamento na baixa troposfera.    
Fonte: Frank, 1969.
Figura 9: Linhas de corrente em 200 hPa para Julho de 1967. Observa-se a localização do cavado sobre o Atlântico central (que é comum no verão) e o sistema de explosão da nebulosidade (pontos pretos) diante do cavado.    
Fonte: Frank, 1969.

Frank fez um estudo do caso real em Julho  de 1967, identificando ondas de leste com imagens de satélite, onde observa-se o modelo de “V invertido” (figura 10). 
Figura 10: Série de imagens diárias onde mostra-se o movimento da onda quando atravessa o Atlântico desde a costa de África até o Caribe.
Fonte: COMET, 2007, baseado em Frank, 1969.

Nota-se que a quantidade de bandas ou letras “V” é diferente em cada dia, assim como em alguns dias não detecta-se um “V” bem formado e só uma parte dele.

2.3.4. Modelo de ondas africanas

As ondas que localizam-se sobre África também têm uma extensão latitudinal de 10-15° e normalmente não têm um vórtice em superfície associado a elas até atingirem a costa ocidental da África, onde obtêm sua máxima amplitude e intensidade. O padrão de nebulosidade associada a estas ondas é circular ou em bandas e quase não há definição sobre terra até atingir a costa.
Para determinar os padrões de divergência, vorticidade e precipitação no plano horizontal quando se formam OL sobre a África, Reed et al (1977) fizeram um estudo em agosto e setembro de 1974, onde obtiveram os seguintes resultados, expostos na Figura 11:

Nos níveis inferiores, à frente do eixo da onda se produz convergência e atrás, divergência. Em altos níveis, no entanto, esse padrão é contrário. Note que este padrão, principalmente em superfície, é oposto ao modelo clássico de Riehl (1945).
Figura 11: Cartas sinóticas de divergência em unidades de 10-5s-1. As letras C e D representam Convergência e Divergência, respectivamente. A cruz significa o eixo da onda a 700 hPa. Cada unidade de categoria representa 3° de longitude e a ∆ de latitude 0 representa 11°N. a) Superfície, b) 850 hPa, c) 700 hPa e d) 200 hPa.
Fonte: Reed et al, 1977.

Na figura 12 observa-se que à frente e sobre o eixo da onda produz-se vorticidade ciclônica em níveis inferiores, com valores maiores em 700 hPa próximo aos 10°N.
Figura 12: Cartas sinóticas de vorticidade em unidades de 10-5s-1. As letras C e A representam vorticidade ciclônica e anticiclônica, respectivamente. A cruz significa o eixo da onda a 700 hPa. Cada unidade de categoria representa 3° de longitude e a ∆ de latitude 0 representa 11°N. a) Superfície, b) 850 hPa, c) 700 hPa e d) 200 hPa. 
Fonte: Reed et al, 1977.

As figuras 13 e 14 mostram que à frente da onda há fortes movimentos ascendentes, acompanhado dos máximos de nebulosidade e precipitação, porém a atividade de chuva e tormentas mais intensa encontram-se a certa distância adiante do cavado.
Figura 13: Movimento vertical (hPa/hora). R, N, T e S representam a crista (ridge), norte, cavado (trough) e sul da onda, respectivamente.
Fonte: Reed et al, 1977.
Figura 14: a) Porcentagem de cobertura por nebulosidade convectiva. b) Taxa de precipitação média (mm/dia). A cruz significa o eixo da onda a 700 hPa. Cada unidade de categoria representa 3° de longitude e a ∆ de latitude 0 representa 11°N.
Fonte: Reed et al, 1977.

3. Exemplo:

O exemplo seguinte (Figura 15) apresenta uma onda de leste que se formou sobre a costa ocidental da África e percorreu todo o Atlântico até atingir o Caribe e colaborar na formação da tempestade tropical Gabrielle ocorrida entre 4 e 13 de setembro de 2013 (Avila, 2013).     
Figura 15: Pressão reduzida ao nível do mar (linhas pretas) e linhas de corrente em 700 hPa (azul). Eixo da onda em 700 hPa (linha azul) e em superfície (linha vermelha)


Inicialmente pela análise horizontal da Figura 16, observa-se que a onda foi identificada sobre o ocidente da África em 26 de agosto de 2013 e logo foi deslocando-se para o oeste; em 29 de agosto o eixo da onda atinge os 45°W e tem um comprimento de onda aproximado de 20° (desde 60°W até 40°W) e uma amplitude aproximada de 12° (desde 10°N até 22°N), nesse dia observa-se também o eixo da onda em nível superficial (linha vermelha) localizada mais à oeste do eixo em níveis altos (linha azul) o que indica a orientação da onda para leste com a altura. Quando a onda passa pelos 60°W observa-se que diminui sua velocidade ficando sobre esta longitude por vários dias, onde une-se com outras ondas e logo colabora para a formação duma circulação ciclônica fechada ao sul de Porto Rico em 5 de setembro, o qual tornou-se na tempestade tropical Gabrielle.    
Figura 16: Tendência da pressão em 24 horas. Eixo da onda (linha vermelha).
Seguindo a análise horizontal, na figura 16 observa-se que o 28 de agosto observa-se a diferença marcada entre as quedas e aumentos de pressão em superfície quando passa a onda analisada. Na região dianteira do cavado existem quedas de pressão de hasta 2 hPa, mas na região traseira, um aumento de pressão de até 0,6 hPa.    
Figura 17: Divergência e linhas de corrente em 200 hPa).

Numa análise em níveis altos (fig 17), observa-se que o dia em que se forma a tormenta tropical (4 de setembro) está associado à divergência gerada por um sistema com giro horário, o que contradiz o dito por Frank (1969), quem associa a máxima chuva gerada pela onda de leste com um cavado em níveis altos.

Figura 18: Corte vertical dos ventos e da temperatura potencial equivalente. Linhas azuis representam as ondas nos diferentes níveis onde podem ser observadas. 

Pela análise vertical dos ventos (fig 18) nota-se que o eixo da onda está inclinado para leste com a altura, principalmente entre 900 e 500 hPa. Além disso os ventos são mais fracos perto do eixo da onda e mais fortes mais longe deste. Isso permite verificar o dito por Riehl (1969), há convergência atrás do eixo da onda, e divergência à frente. Além disso, em 29 de agosto pode-se verificar o núcleo frio da onda até os 600 hPa, seguido de um núcleo ligeiramente quente sobre este nível. Isto se verificou com a temperatura potencial equivalente que fecha um núcleo frio quando num mesmo nível de pressão, sobre o núcleo, a temperatura é menor que nos arredores (fig 19).


Figura 19: Igual que a figura 18. Q (núcleo quente) e F (núcleo frio).
Figura 20: Perfil vertical-temporal do ventos. Eixo da onda sobre 12°N-45°W (linha vermelha) e apresentação da máxima curvatura dos ventos (círculo azul).

Na figura 20 (perfil vertical e temporal do vento) observa-se também o eixo da onda inclinado para leste, além de notar que sobre o ponto 12°N-45°W a onda expressa-se melhor as 12Z do dia 29 de agosto. Observa-se que antes do passo da onda, os ventos são de leste, mas entre as 18Z do 28 de agosto e 00Z do 31 de agosto os ventos tem uma componente norte diante do eixo e uma componente sul atrás do eixo da onda. Nota-se também que o máximo giro dos ventos (mudança na direção dos ventos) está entre os 850 e 700 hPa.
Figura 21: Animação do movimento vertical e humidade relativa. A linha roxa representa o ponto vermelho na figura na esquina superior direita.

Na figura 21 nota-se que quando a onda está passando pelos 45°W (00, 06 y 12Z do 29 de agosto) há movimento vertical ascendente e aumento de umidade, mas ocorre o contrário depois que a onda passa.
Figura 22: Animação de imagens de satélite de GOES-13 e METEOSAT cada 3 horas no canal infravermelho, desde 02:45Z do 26/08/2013 até 23:45Z do 06/09/2013. Trem de ondas de leste (linhas amarela, vermelha e azul claro). O círculo laranja indica o início da Gabrielle. 
Por último, na figura 22 observa-se uma análise das ondas de leste com imagens de satélite. A animação inicia nas 02:45Z do 26 de agosto de 2013, onde pode-se identificar um trem de ondas formado por duas ondas que avançam para o oeste e, após um dia, surge uma nova onda (cor azul claro). No centro de Atlântico estas ondas avançam com uma aceleração relativamente constante, mas quando se aproximam ao Caribe, estas ondas se desaceleram, até esperar a chegada da terceira onda, que colabora com a geração da Gabrielle.      

4. Referências:

4.1. ASNANI, C.G. 2005. Tropical Meteorology. Chapter 4. Easterly Waves. Indian Institute of Tropical Meteorology.

4.2. Avila, L. National Hurricane Center. Tropical Cyclone Report. Tropical Storm Gabrielle (AL072013). 4-13 September 2013.

4.3. Burpee, R. 1972. The Origin and Structure of Easterly Waves in the Lower Troposphere of North Africa. Journal of the Atmosferic Sciences. Vol 29. 77-90.

4.4. Burpee, R. 1974. Characteristics of North African Easterly Waves During the Summers of 1968 and 1969. Journal of the Atmosferic Sciences. Vol 31. 1556-1570.

4.5. Caetano, J. 2011. Análise das ondas de leste sobre a costa leste do nordeste do Brasil para o período entre 1999-2009. Dissertação do Mestrado. Programa de Pós-graduação em Meteorologia do Instituto de Geociências do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGM-IGEO-CCMNUFRJ).

4.6. Carlson, T. 1969. Synoptic histories of three african disturbances that developed into atlantic hurricanes. Monthly Weather Review. Vol 97. N° 3. 256-276. 

4.7. Carlson, T. 1969. Some remarks on african disturbances and their progress over the tropical Atlantic. Monthly Weather Review. Vol 97. N° 10. 716-726.

4.8. COMET-Program e University Corporation of Atmospheric Research. 2007. Modelos Conceptuais de Ondas Tropicais. (http://www.meted.ucar.edu/meteoforum/tropwaves_sp/print_version/print_index.htm)

4.9. COMET-Program e University Corporation of Atmospheric Research. 2012-2014. Ondas Tropicais de Leste. (https://www.meted.ucar.edu/tropical/synoptic/Afr_E_Waves_es/navmenu.php?tab=1&page=1.0.0&type=flash) 

4.10. Frank, N. 1969. The “Inverted V” cloud pattern – na easterly wave? 1969. Montly Weather Review. Vol. 97, N° 2. 130 – 140.


4.11. Glossário online da NOAA: http://w1.weather.gov/glossary/index.php?letter=e

4.12. Glossário online da Sociedade Meteorológica Americana: http://glossary.ametsoc.org/wiki/African_Easterly_Wave

4.13. Grist, J. 2002. Easterly waves over Africa. Part I: The seasonal Cycle and Contrasts between wet and dry years. Monthly Weather Review. Vol 130. 197-211.

4.14. Reed, R.J., D.C. Norquist and E.E. Recker. 1977.  The structure and properties of African wave disturbances as observed during Phase III of GATE. Montly Weather Review. Vol. 105, N° 2. 317-333

4.15. Riehl, H. 1954. Tropical Meteorology. McGraw-Hill Book Company, Inc. Estados Unidos.

4.16. Saha,K. e Chang, C-P. The baroclinic processes of monsoon depressions. Montly Weather Review. Vol. 111. 1506-1514.

4.17. Saha, K. 2010. Tropical Circulation System and Monsoons. Chapter 2: Tropical Disturbances. Editorial Springer.

4.18. Tópicos de Ensino do Meteorologia Aplicada a Sistemas de Tempo Regionais (MASTER). Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG). Universidade de São Paulo (USP). 2004. http://masterantiga.iag.usp.br/ind.php?inic=00&pos=1&prod=ensino  


OBSERVACÃO: Os dados utilizados para a elaboração dos gráficos no exemplo são análises do GFS.


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